Tape Junk

Em bom português: Beautify Junkyards, Tape Junk, PZ e Márcia

Beautify Junkyards | "Pés na Areia na Terra do Sol"

Beautify Junkyards | “Pés na Areia na Terra do Sol”

Se há novidades que gosto de dar são as da música portuguesa. E há muitas. Vamos a isso.

Beautify Junkyards

The Beast Shouted Love chega de mansinho pela mão da generosa NOS Discos (download gratuito aqui). É o primeiro disco de originais dos Beautify Junkyards, depois de terem medido o pulso aos fãs portugueses de folk fofinha com um conjunto de covers de nomes como Nick Drake, no álbum homónimo que surpreendeu em 2013.

A sonoridade e a estética mantêm-se no território folk. “Pés na Areia na Terra do Sol” é exemplo disso mesmo e tem vídeo a condizer. Para manter debaixo de olho.

Tape Junk

Quem também já andou pela NOS Discos, quando se estrearam com The Good and The Mean, são os Tape Junk. Agora, estes rapazes voltam a entregar misturas de rock e blues em jeito de canções dançáveis, fáceis de apanhar numa qualquer rádio nacional que se preze. Hoje, por exemplo, foi na Vodafone FM que pudemos ouvir algumas das faixas do novo trabalho.

O disco é homónimo, como convém a bandas que trilham o caminho da consagração, e é lançado pela Pataca Discos, primeiro em formato digital e, a partir de hoje, na edição física. À primeira vista, parece que João Correia, Frankie Chavez, António Vasconcelos Dias e Nuno Lucas voltam para nos falar dos temas do costume. Há álcool (“Me and My Gin”), há sinais dos tempos (“Thumb Sucking Generation”), há problemas financeiras (“All My Money Ran Out”), há questões maritais (“Six String and the Booze”).

Os concertos, dizem eles, deverão correr o alinhamento do álbum. Para ver no NOS Alive, com data a anunciar.

PZ

Ir da folk ao blues sem passar pela pop seria um erro. E por isso temos Mensagens da Nave-Mãe, disco novo de PZ. Ele é Paulo Zé Pimenta. Ou o tipo da “Cara de Chewbacca” que também canta sobre “Croquetes” e aparece frequentemente em pijama nos seus videoclips. (mais…)

Bruno Pernadas no CCB

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Ler texto originalmente publicado na Look Mag

Chegou em 2014 com uma pergunta longa mas bastante simples: “How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge?”. Bruno Pernadas emancipou-se do anonimato de grupos como os Real Combo Lisbonense, para apresentar ao público um disco tão soberbo quanto inesperado. A expectativa para o concerto de 5 de fevereiro, no CCB, não podia ser maior.

Vem em nome próprio mas rodeado de grandes músicos. É assim que o concerto do Centro Cultural de Belém começa. Vemos no palco Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Francisca Cortesão (Minta & The Brook Trout) e Margarida Campelo. A bateria está a cargo de João Correia (para resumir a lista de bandas do currículo, Tape Junk) e o baixo fica com Nuno Lucas (Tape Junk). No total, entre cordas e sopros, teclas, pandeiretas e até um megafone, são oito os artistas presentes no Pequeno Auditório do CCB, ao comando de Bruno Pernadas. Um pouco do universo Pataca Discos representado em palco.

Rodeado de pautas, Bruno Pernadas lidera sem ser preciso manifestar-se. Ao final da segunda música, porém, um contratempo técnico vai obrigá-lo a interromper o alinhamento, aproveitando para cumprimentar a sala e prometendo remeter-se ao silêncio durante o resto da noite, se o material assim permitir.

Por agora, são os sucessivos “ah” da primeira música que se fazem ouvir. Apesar de ser diferente do que conhecemos no álbum, é um som que nos agarra. Não deixa que nos percamos no gap entre a versão que ouvimos repetidamente em meses de espera por um concerto e o real deal. Ultrapassado o choque inicial, acabamos por mergulhar no alinhamento. Há demasiadas coisas a acontecer para nos determos com reflexões. Aqui, todos os pormenores estão a nu. Todas as teclas que Bruno Pernadas vai escolhendo, todos os acordes das guitarras, todas as sobreposições de instrumentos são apreensíveis individualmente. A homogeneidade do disco dá lugar à singularidade de cada elemento e tudo fica mais real, mais sincero. Nada se perde.

“Alright, now smile and remember, not too many Martinis”. O aviso chega-nos com “Indian Interlude”, logo seguida de “Huzoor”, uma das faixas mais completas/complexas de “How Can We Be Joyful…”. Vemos Bruno Pernadas deixar as teclas e pegar na guitarra. Toca qualquer instrumento com a mesma confiança com que lidera este grupo sem ter de ocupar o lugar central do palco. Na verdade, reserva-se o canto direito, resguardado do foco de luz principal e olhares do público. Percebemos, mesmo assim, que é ele quem comanda a orquestra. Terá desenhado cada uma das músicas, imaginado a entrada e momentos altos de todos os instrumentos que ouvimos. E depois, como os bons líderes, retira-se do resultado final, deixa-se anular pelo todo para ir ocupar um segundo plano. Este é um Pequeno Auditório demasiado pequeno para Bruno Pernadas – e está quase esgotado. (mais…)