Bon Iver

Raury vem para nos salvar

© "God's Whisper"

“God’s Whisper”

O iTunes foi definitivamente trocado pelo rádio do carro. Passo mais horas ao volante do que com os phones nos ouvidos e até o Spotify já é pouco usado. O que significa que os momentos musicais mais emocionantes oscilam entre as músicas preferidas (e aquela sensação única de ligar o carro e estar a dar aquela…) e a descoberta de coisas novas.

Há um pequeno problema: a proporção de música nova não domina a maioria das grelhas das rádios. Algures na semana passada, uma música entrou imediatamente no ouvido. “Crystal Express” apareceu-me no ecrã do Shazam. Raury era o artista a quem a faixa estava atribuída.

Americano de Atlanta, Raury (nome próprio) não encaixa nos rótulos habituais. E a sua magia parece estar aí mesmo. Folk-rap, nas linhas de Kanye West e Andre 3000, chamar-lhe rapper é redutor. Raury é um millennial que é a promessa de uma geração (ele que tem apenas 19 anos). Em vez de recusar esse título, assume-o e assume-se como o salvador da música que está por vir. Sente-se na obrigação de a fazer, por ter esse talento.

A música de Raury começou a aparecer no ano passado. “God’s Whisper” foi o primeiro single a surpreender as massas. Faz parte de Indigo Child, a primeira mixtape que lançou o jovem músico nas bocas do mundo.

Devil’s Whisper” veio depois, faixa já integrada em All We Need, disco de estreia que chegou em Outubro passado. Chegou como a antítese da música anterior, porque Raury também é a antítese da sua geração. Em vez de um produto da internet, serviu-se dela para dominar a indústria da música. Em vez de seguir os ídolos da sua geração, interiorizou-os como influências (e vão de Kid Cudi a Bon Iver, de Fleet Foxes a Queen). Em vez de alinhar com as tendências, afasta-se dos padrões (critica até alguns clichês do rap.

Raury não é disruptivo, mas vem quebrar concepções. E que bom é ver que começa a fazê-lo, por cá, através das rádios.

Bon Iver, forever ago

Bon Iver at La Blogothèque

Bon Iver at La Blogothèque

Passaram-se vários anos desde que Justin Vernon se recolheu ao recato de uma cabana no Wisconsin para curar males de amor e de outras naturezas. Na recuperação, criou aquilo que a indústria decidiu acolher como um dos projectos de indie mais interessantes daquela altura. Já lá vão sete ou oito anos. For Emma, Forever Ago foi a masterpiece que o catapultou para os grandes palcos. Justin Vernon era Bon Iver, Bon Iver era o próprio Vernon.

O tempo fez com o que o grupo unipessoal se alargasse. As canções saíram da cabana e ganharam corpo. Ganharam várias mãos. Depois, Bon Iver sagrou-se grande, como se fosse preciso legitimar-se perante a crítica, perante o público de massas. Foi então que lançou o trabalho homónimo. Vieram os prémios, os Grammys e o desejo de permanecer na penumbra, impossível porque já todos viam Bon Iver na ribalta. Foi nesta altura que Portugal recebeu dois concertos esgotados, Lisboa e Porto ansiosos para conhecer o fenómeno.

Mas Vernon insistia em manter no universo alternativo o seu alter-ego transformado banda. E a popularidade do projecto levou-o a determinar o fim.

Agora, o terceiro acto vai começar. Para deleite de muitos, Justin Vernon anunciou que Bon Iver vai tocar no Eaux Claires Music Festival, evento de que é curador. Não se trata somente de uma reunião da banda mas, como disse, do começo da nova fase de Bon Iver.

Enquanto não chegam músicas novas, recordamos algumas das antigas.